sexta-feira, 27 de abril de 2012

Passado, presente e futuro


Há precisamente um ano, estávamos a viver momentos de grave crise económica e política.
O Governo de José Sócrates tinha acabado de pedir o apoio internacional e assumir que Portugal não tinha condições para honrar os seus compromissos.
Só com a ajuda internacional, Portugal poderia assegurar o normal funcionamento dos serviços públicos, desde a administração, passando pela saúde, pela educação, pela segurança, pelos apoios sociais. Era o ruir do “estado social” tão apregoado.
Depois de seis anos de fausto e de descalabro orçamental, Portugal tinha chegado ao limiar da bancarrota.
Guterres, anos antes, tinha-nos legado o “pântano” político. Sócrates preferiu deixar-nos uma colossal dívida e o futuro na mão de estrangeiros.
Agora, volvido apenas um ano sobre a celebração do acordo com a troika, acordo que foi solicitado, foi negociado e foi assinado pelo PS, com o compromisso dos partidos da oposição do arco do poder, eis que é aquele partido e os seus dirigentes que diariamente o põe em causa, faltando com a solidariedade a quem foi responsável e com ele partilhou o ónus de uma situação crítica e para a qual não contribuiu.
Pelos vistos, para o PS e para os seus dirigentes, antigos e atuais, Portugal deve deixar de cumprir os seus compromissos, só porque as medidas são impopulares.
Estes que foram responsáveis por chegarmos ao precipício, querem agora empurrar-nos definitivamente para ele.
As medidas que o Governo está a aplicar mais não são do que aquelas que o PS propôs, negociou e aceitou, conforme decorre das avaliações da troika.
Mal de nós se quiséssemos colocar em causa o acordo firmado.
Às enormes e graves dificuldades existentes somar-se-iam muitas outras, levando a grande maioria a um estado de penúria sem precedentes. Até parece que não conhecemos o exemplo grego.
Ao celebrar “Abril” da liberdade, da democracia, da paz, do desenvolvimento, é imperioso assumir que fizemos um percurso errado, que cometemos erros, e que agora, temos de superar as dificuldades com sacrifícios, com empenhamento, com trabalho, com esperança.
Foi assim no passado de séculos de História, é assim nestes tempos de insegurança e de precaridade, mas só assim estaremos em condições de legar um futuro mais promissor aos nossos vindouros.

           
Câmara gastou mais
           
O ano de 2011 foi um ano que devia ter exigido de todos nós (pessoas, famílias, empresas, entidades públicas) grande contenção orçamental.
Porém, a nossa Câmara Municipal resolveu fazer o contrário.
Gastou mais em despesa corrente do que em 2010.
Gastou mais do que o que recebeu em 2011.
Nestas circunstâncias, o nosso concelho continua um percurso de endividamento que culminará, como todos os outros, em grandes e penosos sacrifícios para os munícipes.
Aliás já o vêm sentindo com o agravamento das taxas, nomeadamente da recolha do lixo, e com a diminuição dos serviços prestados.
E não vale a pena querer “esconder o Sol com a peneira”, como diz o adágio popular…

NOTA: Faz um ano, também, que assumi responsabilidades políticas no concelho. Foi um ano cheio de atividades e de muito trabalho político para preparar as próximas eleições autárquicas, em torno de um projeto de desenvolvimento integrado e sustentado, para o futuro, para a nossa terra e para os cabeceirenses.


Texto para a edição de Abril de "O Basto"

terça-feira, 17 de abril de 2012

Arranja-me um emprego...


No seio da maioria das famílias portuguesas e na generalidade das instituições escolares os jovens são educados para desenvolverem uma cultura de procura de um emprego. Raramente os filhos e os alunos são incentivados à criação do seu próprio trabalho. Esta aparentemente pequena distinção de cultura organizacional e de posicionamento perante a vida revela-nos, todavia, a grande diferença entre os que se situam num modelo social dos primórdios do século XX e os que se integram na economia de mercado globalizante da sociedade da informação e do conhecimento que caracteriza o século XXI.
Em Portugal, se as escolas e os educadores não cultivarem uma cultura de empreendedorismo, estarão a contribuir significativamente para que os nossos jovens engrossem as fileiras dos inaptos e dos que nem podem ser considerados desempregados, dado que nunca chegaram a ter qualquer actividade produtiva. Revela-se, pois, necessário perceber a grande mudança introduzida na economia pelo avanço das novas tecnologias, pelo desenvolvimento dos mercados virtuais e pela permanente deslocalização das empresas: os jovens terão que ser preparados para identificarem as oportunidades que se lhes deparem, transformando-as em actividades económicas sustentáveis. No entanto, e com poucas e recentes excepções, o estudo das oportunidades não faz parte dos currículos escolares. E essa lacuna não é só da escola. Também os currículos de aprendizagem na família, na rua e nos grupos de pares (os currículos informais e ocultos) raramente abordam este tema. Por isso, nunca é demais sublinhar que preparar os jovens para o emprego, hoje, é deseducar. É não desenvolver neles o protagonismo, a iniciativa, inibindo a sua capacidade de inserção autónoma na sociedade.
Salientemos que nada disto tem a ver com a defesa de uma sociedade ultra liberal, individualista e concorrencial que, infelizmente emerge das políticas dos nossos governantes e que traduzem uma vontade incompreensível de destruição do Estado social que serviu de base a todas as democracias ocidentais. Reclamar é uma compreensão de que o mundo é feito de mudança e que a produção de bens e serviços e a inserção profissional dos agentes económicos já nada tem a var com os modelos industriais do pós-guerra.
É então importante a introdução nos planos de estudos das nossas escolas conteúdos e actividades que capacitem os estudantes a desenvolver competências que os conduzam à livre iniciativa, com conhecimento dos meios e dos recursos que a sociedade lhes disponibiliza em apoio aos jovens que quiserem ser empreendedores.
No contexto das exigências da sociedade do conhecimento e da tendência para a globalização dos mercados, essa formação profissionalizante dos estudantes e a construção de uma cultura centrada no empreendedorismo revela-se fundamental para as instituições de ensino que, também elas, queiram ser competitivas nas apertadas teias dos sistemas educativos europeus.
Se a globalização está associada a uma aceleração do tempo e a uma progressiva integração do espaço, então importa que estejamos abertos às exigências dos processos irreversíveis que contaminam os agentes económicos. Aprender a viver com isso é preocupação que deve nortear as decisões estratégicas, das instituições de ensino, já que a questão que se lhes coloca é a de saberem identificar e aproveitar as oportunidades que emergem de uma economia internacional sem fronteiras.
A contemporaneidade exige que os futuros profissionais possuam e demonstrem competências em diversas áreas do saber e do saber fazer, muitas delas pouco tradicionais e geralmente expurgadas dos templos de ciência estática em que se transformaram as nossas escolas. Mudemos então essas escolas para que possam voltar a desempenhar um papel fundamental em todo o processo de formação destes cidadãos que se querem aptos a viverem na sociedade da informação, sabendo assumir-se como líderes audazes das próprias carreiras.
Sabemos que estes novos desafios obrigam a mudanças radicais nas rotinas organizacionais das instituições. Mas sem mudança não há futuro que valha a pena ser vivido.


João Ruivo

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Muito a propósito

Hoje somos chateados por tantas chamadas indesejadas, que deveríamos usar esta técnica....
A ver e seguir o exemplo!

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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Emídio Guerreiro: “o dinheiro público não pode ser gerido desta forma”

O Vice-Presidente da bancada do PSD recordou os alertas do Tribunal de Contas e lamentou a oportunidade perdida.
“Os relatórios da Inspeção Geral das Finanças e do Tribunal de Contas não deixam dúvidas: a Parque Escolar é a prova acabada de como uma excelente ideia, a da renovação das Escolas Secundárias, se pode tornar num pesadelo sem fim à vista”.


Foi desta forma que Emídio Guerreiro iniciou a declaração política do PSD, esta quarta-feira. De acordo com o Vice-Presidente da bancada do PSD, “a Parque Escolar foi apresentada em 2007 com um objetivo ambicioso e bem definido: investir 940 milhões de euros para intervir em 332 escolas. Previa-se e anunciava-se um investimento médio de 2,82 milhões de euros por escola. Em 2008, na apresentação do seu plano de negócio o custo médio de intervenção por escola subiu para mais de 7 milhões de euros. Em 2009 o investimento subia para 2500 milhões de euros e desapareciam do objetivo 127 escolas, ficando abrangidas pelo programa 205 escolas. Mais recursos e menos escolas. E como que por magia, em 2010 o custo médio de intervenção atingia os 15 milhões de euros num total superior a 3100 milhões de euros. Uma escalada de preços sem paralelo na história do investimento público em Portugal”.
“Atrasos, incumprimentos, desvios, prorrogação de prazos, endividamento, encargos, falta de rigor, exceções, trabalhos adicionais, erros e omissões, excessos, desaproveitamento, restrição ao princípio da concorrência, falta de transparência, despesas ilegais, pagamentos ilegais, esforço financeiro público, dívidas, derrapagens acentuadas. Estes são apenas alguns substantivos ou expressões saltam à vista do relatório do Tribunal de Contas. E constam nas conclusões do relatório mesmo após a Parque Escolar ter exercido o seu direito de contraditório. E estas conclusões a todos devem preocupar. Como nos recordam, e bem, a Inspeção Geral de Finanças e o Tribunal de Contas, a empresa Parque escolar teve todos os mecanismos de exceção para a contratação de bens e serviços. Nunca uma empresa pública teve tantas ferramentas de gestão em Portugal. E ao invés de se tornar uma referência de boas práticas, demonstrou ser um exemplo a não seguir”.
Segundo o social-democrata o Tribunal de Contas é bem claro ao destacar a ausência de tetos máximos na definição das intervenções como um dos fatores precipitantes do disparar dos custos. “Nada justifica que as intervenções por escola variassem entre um mínimo de 6,3 milhões de euros e um máximo de 30,8 milhões de euros, que o custo por m2 vá de 626 € a 3.536 €, ou que o custo por aluno varie entre 5.524 € e os 30.258 € e que a área de construção flutue entre 5 m2 e 22 m2. Não houve rigor nem na decisão política nem no planeamento o que fez com a execução fosse a que foi. O dinheiro público não deve, não pode ser gerido desta forma”.
Emídio Guerreiro recordou, de seguida, que esta terça-feira em sede de Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, o PSD questionou o ex-presidente da Parque escolar sobre estas matérias. “Uma coisa ficou clara. Todas as alterações ao programa inicial tiveram o acordo do Governo de então. A decisão de retirar do programa 127 escolas não foi da Parque Escolar mas sim do Governo. Ficamos sem saber os critérios que determinaram a escolha das escolas que saíram do programa mas sabemos quem a fez. Do mesmo modo, ficou claro que a ausência de critério e de balizas para os projetos foi da responsabilidade dos governos de então. O Ex-presidente da Parque Escolar foi claro, e, talvez imbuído do espirito pascal, fez como Pilatos e lavou as mãos no que respeita à responsabilidade das decisões políticas que permitiram que mais dinheiro do que o previsto fosse aplicado a menos escolas que o prometido”.
Na opinião do social-democrata, “a Escola pública não merecia isto. Uma boa ideia mal executada pode comprometer o futuro de muitos. Estamos perante uma hipoteca geracional. Os recursos foram gastos muito acima do previsto e em menos escolas que o necessário. A Parque Escolar, pelos encargos que deixa, quer de manutenção e da amortização financeira, bem como por ter esgotado a capacidade de investimento neste sector é o maior ataque à Escola Pública dos últimos anos. Compromete o futuro da política educativa criando ainda mais dificuldades ao atual Governo e aos portugueses. E não valia a pena, pois um pouco de bom senso e de rigor nas opções políticas teriam evitado tudo isto e resolvido os problemas de forma bem mais eficaz”.

NP - É assim que se esvai a nossa riqueza, são estes os negócios que outros fizeram e que agora tdoso nós teremos de pagar e com juros elevados.
Em linguagem simples e popular:É UMA VERGONHA!


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Obrigado, Sr. ministro!

Há dias um pobre pediu-me esmola. Depois, encorajado pela minha generosidade e esperançoso na minha gravata, perguntou se eu fazia o favor de entregar uma carta ao senhor ministro. Perguntei-lhe qual ministro e ele, depois de pensar um pouco, acabou por dizer que era ao ministro que o andava a ajudar. O texto é este:"Senhor ministro, queria pedir-lhe uma grande ajuda: veja lá se deixa de me ajudar. Não me conhece, mas tenho 72 anos, fui pobre e trabalhei toda a vida. Vivia até há uns meses num lar com a minha magra reforma.
Tudo ia quase bem, até o senhor me querer ajudar.
Há dois anos vierem uns inspectores ao lar. Disseram que eram de uma coisa chamada Azai. Não sei o que seja. O que sei é que destruíram a marmelada oferecida pelos vizinhos e levaram frangos e doces dados como esmola. Até os pastelinhos da senhora Francisca, de que eu gostava tanto, foram deitados fora. Falei com um deles, e ele disse-me que tudo era para nosso bem, porque aqueles produtos, que não estavam devidamente embalados, etiquetados e refrigerados, podiam criar graves problemas sanitários e alimentares. Não percebi nada e perguntei-lhe se achava bem roubar a comida dos pobres. Ele ficou calado e acabou por dizer que seguia ordens.
Fiquei então a saber que a culpa era sua e decidi escrever-lhe. Nessa noite todos nós ali passámos fome, felizmente sem problemas sanitários e alimentares graves.
Ah! É verdade. Os tais fiscais exigiram obras caras na cozinha e noutros locais. O senhor director falou em fechar tudo e pôr-nos na rua, mas lá conseguiu uns dinheiritos e tudo voltou ao normal. Como os inspectores não regressaram e os vizinhos continuaram a dar-nos marmelada, frangos e até, de vez em quando, os belos pastéis da tia Francisca, esqueci-me de lhe escrever. Até há seis meses, quando destruíram tudo.
Estes não eram da Azai. Como lhe queria escrever, procurei saber tudo certinho. Disseram-me que vinham do Instituto da Segurança Social.
Descobriram que estava tudo mal no lar. O gabinete da direcção tinha menos de 12 m2 e na instalação sanitária do refeitório faltava a bancada com dois lavatórios apoiados sobre poleias e sanita com apoios laterais. Os homens andaram com fitas métricas em todas as janelas e portas e abanaram a cabeça muitas vezes. Havia também um problema qualquer com o sabonete, que devia ser líquido.
Enfureceram-se por existirem quartos com três camas, várias casas de banho sem bidé e na área destinada ao duche de pavimento (ligeiramente inferior a 1,5 m x 1,5 m) não estivesse um sistema que permita tanto o posicionamento como o rebatimento de banco para banho de ajuda (uma coisa que nem sei o que seja). Em resumo, o lar era uma desgraça e tinha de fechar.
Ultimamente pensei pedir aos senhores fiscais para virem à barraca onde vivo desde então, medir as janelas e ver as instalações sanitárias (que não há!). Mas tenho medo que ma fechem, e então é que fico mesmo a dormir na rua.
Mas há esperança. Fui ontem, depois da missa, visitar o lar novo que o senhor prior aqui da freguesia está a inaugurar, e onde talvez tenha lugar. Fiquei espantado com as instalações. Não sei o que é um hotel de luxo, porque nunca vi nenhum, mas é assim que o imagino. Perguntei ao padre por que razão era tudo tão grande e tão caro. Afinal, se fosse um bocadinho mais apertado, podia ajudar mais gente. Ele respondeu que tinha apenas cumprido as exigências da lei (mais uma vez tem a ver consigo, senhor ministro). Aliás o prior confessou que não tinha conseguido fazer mesmo tudo, porque não havia dinheiro, e contava com a distracção ou benevolência dos inspectores para lhe aprovarem o lar. Se não, lá ficamos nós mais uns tempos nas barracas.
Senhor ministro, acredito que tenha excelentes intenções e faça isto por bem. Como não sabe o que é a pobreza, julga que as exigências melhoram as coisas. Mas a única coisa que estas leis e fiscalizações conseguem é criar desigualdades dentro da miséria. Porque não se preocupam com as casas dos pobres, só com as que ajudam os pobres."

Triste País que procede assim com os pobres....
por JOÃO CÉSAR DAS NEVES