terça-feira, 25 de outubro de 2011

Estado de emergência



As empresas só são viáveis quando as receitas cobrem as despesas.
Com as nações passa-se o mesmo: só são viáveis quando o que os seus habitantes produzem paga aquilo que consomem.
Caso contrário, entram numa espiral de dívida insustentável.
E não se diga que não temos muito por onde poupar.
In: Política a Sério, José António Saraiva, Sol, de 14 de outubro

O Governo que iniciou funções, há pouco mais de três meses, viu-se confrontado com uma situação insustentável: as dívidas, pública e privada, batiam todos os recordes; o défice deste ano, em vez de ter baixado, subiu; o financiamento externo estava confinado ao acordo com a troika e com juros avassaladores; e os compromissos desse acordo impõem resultados precisos e em tempo determinado.
Dinheiro não havia, nem há!
Era preciso encontrar soluções. Qualquer delas pior que a anterior.
O incumprimento, por seu lado, é somente o assumir da bancarrota.
Detesto as medidas adotadas pelo Governo.
Mas detesto muito mais todas as ações que contribuíram para chegar ao ponto de estas medidas se imporem como a última saída para o país e para os portugueses.
Como afirmou Passos Coelho, As medidas são minhas mas o défice que as obriga não é meu”.
Portugal chegou a este ponto, depois de muitos anos de esbanjamento, sendo que, nos últimos seis, a situação se agravou de forma desmesurada.
Aqui chegados, temos todos motivos e razões de queixa. Lá diz o ditado que “em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”. É o que nos acontece, literalmente.
Há muito que prestigiados economistas vinham alertando para o colapso da economia portuguesa. Manuela Ferreira Leite e Medina Carreira eram “insultados” por causa da sua visão realista. Cavaco Silva era ignorado nos seus alertas. Outros comentadores, com a mesma orientação, eram motivo de chacota nas lides socialistas.
No reino cor-de-rosa de Sócrates tudo estava bem. Não eram precisas medidas de contenção, planos de reestruturação, cortes das despesas, enfim entrar nos eixos.
Só tarde e a más horas recorreu ao FMI, ao BCE e à CE. Tarde, tarde de mais, como se previra e com as consequências que hoje vemos.
Portugal vive hoje em estado de emergência.
Não é uma questão de alternativas, de preferências, de gostos. Temos, pura e simplesmente, de cumprir os objetivos que o governo de Sócrates negociou e aprovou com o beneplácito dos partidos que hoje estão no poder.
Se falharmos, falhamos como nação, falhamos como povo.
Se falharmos, teremos ainda uma situação muito pior.
Esta situação é muito dura, excessivamente dura. Recuamos economicamente à década de setenta do século passado. De outro modo, recuaríamos à de vinte, de que nós já nem temos memória.
Infelizmente é este o nosso fado!
           
Continuar a gastar
           
          Dia após dia, são conhecidas as medidas adotadas pelas diferentes entidades públicas no sentido de reduzir as despesas. Tendo presente a situação financeira do país, as obras vão parando, um pouco por todo o lado. Há restrições de todo o tipo: dispensa de pessoal, controlo das despesas de consumo, renegociação de contratos.
Enfim, é tempo de poupar. É tempo de assumir a quota-parte no controlo das finanças públicas.
            Porém, há sempre quem considere que pode continuar a gastar.
        Não sabemos de onde vem o dinheiro, não sabemos quanto está a ficar escondido como dívida futura.
            Depois, alguém se pode admirar de surgirem sucessivos e colossais buracos?!

Publicado na edição de Outubro de "O Basto"

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