sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os buracos


Dizia, recentemente, na Rádio Voz de Basto, que Cabeceiras bem poderia ser considerada a capital europeia dos buracos.
E não me referia ao estado das contas municipais. Referia-me ao estado em que estão as estradas do nosso concelho.
Ao longo dos últimos anos, temos ouvido dizer que se asfaltaram dezenas de quilómetros de estradas, que se levaram os acessos aos lugares isolados, que se criou uma rede de ligação entre as localidades.
Tudo isso é verdade.
Todos os lugares do nosso concelho há dezenas de anos que têm acessos, mas reconhecemos, sem tibiezas, que foi feito um trabalho positivo de renovação das estradas que lhe dão acesso. Porém, não podemos ignorar que, na maior parte dos casos, as obras ou não foram acabadas (falta de valetas, falta de sinalização, falta de marcações, falta de proteções) ou a sua pavimentação foi deficiente, pelo que, volvidos meia dúzia de anos, essas vias estão um verdadeiro campo minado.
Buraco à direita, buraco à esquerda, buraco pelo eixo da via.
Não precisamos de sair da vila para o verificar. Mas percorramos o concelho, de lés a lés, e a situação é idêntica. Podemos sair da vila para os lados de Pedraça, ou para Outeiro. Podemos fazer o percurso de Moimenta a Gondiães. Pelo Vilar à Uz, é a mesma coisa. E, por aí fora, muitos outros exemplos poderíamos anotar.
Mas a ânsia de fazer é tal, que se fazem novas vias, novas rotundas, mas tudo fica inacabado. Aumentam-se os buracos. Vejamos o caso das variantes à vila, a rotunda da Cachada, a rotunda de Lamas. Obras que já levam alguns meses de asfixiante paralisia, criando as maiores preocupações aos condutores, pelos perigos que correm e pelos prejuízos que as suas viaturas podem sofrer.
É imperioso um plano realista e adequado para acabar com este estado de coisas.
A segurança rodoviária é um direito de todos nós.
           
O que faz falta…
           
            Diz a canção que “o que faz falta é animar a malta”.
Ora nesta ocasião de más notícias, animar a malta será sempre positivo. Mas também diz o povo que com “festas e bolos se enganam os tolos”.
E nós temos sido “tolos”, já que nos deixamos enganar com muitas festas e talvez com alguns bolos…
Mas num contexto de crise, numa situação em que o sector público está em colapso, exigia-se uma sociedade civil forte e atuante.
Porém, nada disso acontece, até porque tudo tem de estar coordenado politicamente, não vá haver alguma revolução.
Durante estes anos todos só se pensou em fazer obra pública. Obra que consumiu milhões de euros que não tínhamos. Muitos milhões de euros que estamos a dever e que os nossos filhos irão pagar, e pagar com juros elevados. Obra que nos custará os olhos da cara, no futuro, com a sua manutenção e fruição.
Faz-me impressão que não se tenha pensado em desenvolver o concelho pelo lado do investimento, pela criatividade, pela valorização das nossas potencialidades.
Falar hoje, dezoito anos volvidos, em industrialização, em produtos locais, em criação de emprego, é de um desplante sem limite.
Para fazer isso não teria sido preferível incentivar à radicação de empresas em vez de deixar sair as que aqui havia?
Porque é que não se deixa instalar um hipermercado?
Porque é que os hotéis prometidos se ficam pela promessa?
Só porque esses investimentos têm de ser privados e só se sabe gastar o dinheiro que é de todos nós?
Como dizia num destes dias, nós não gostamos que se ganhe dinheiro. Preferimos que todos nós percamos dinheiro e que caminhemos neste percurso de empobrecimento coletivo.
Depois queixamo-nos!

Crónica para a edição de Maio de "O Basto"

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