sábado, 21 de maio de 2011

Passos para Sócrates: 'Não tem desculpa'


Tenso, com muita papelada e pouca moderação. No final, já sem os sorrisos iniciais, as faces fechadas de ambos (Sócrates evitava até olhar para o oponente) sublinhavam a violência verbal da discussão à volta de temas como a saúde, o mercado de trabalho e a crise política e financeira do país. Se dúvidas houvesse, o debate entre os dois candidatos a primeiro-ministro deixou claro que é pouco provável que possam entender-se no mesmo governo.

Desde o início, o objectivo dos dois oponentes foi claro. Pedro Passos Coelho foi para o debate apostado em centrar a discussão nos anos da governação socialista. José Sócrates centrou a estratégia nas propostas dos sociais-democratas.

Se nos primeiros minutos Passos Coelho teve dificuldade em voltar a discussão para os governos do PS, foi conseguindo depois passar à ofensiva, marcando ao longo do debate que Sócrates se recusava a discutir o seu programa e a sua governação.

Na fase inicial, a discussão centrou-se durante longos minutos na área da Saúde, com Sócrates a afirmar que Passos Coelho é a favor do co-pagamento no Serviço Nacional de Saúde, uma tese que o líder do PSD apelidou de falsa, mas sem especificar se defende o pagamento dos serviços médicos do SNS.

Na área do trabalho, Sócrates acusou o líder social-democrata de querer liberalizar o trabalho temporário, enquanto Passos Coelho defendeu que «muitas empresas fecharam em Portugal» por o governo não ter pedido ajuda externa mais cedo, dado que os bancos canalizaram dinheiro para a compra da dívida portuguesa e não para a economia.

E se Sócrates não o fez, foi por interesse pessoal, acusou: «O senhor está agarrado ao lugar de primeiro-ministro». Uma resposta às críticas de Sócrates, que tinha antes responsabilizado o PSD pela crise política que levou o país para eleições, afirmando que os sociais-democratas o fizeram por interesse partidário.

Documentos, gráficos vários e até uma disquete serviram de instrumento para a troca de palavras, enquanto o sistema de medição do controlo de tempos falhava, prejudicando a moderação e favorecendo as interrupções constantes.

Na mensagem final, Passos Coelho, assumindo que não tem experiência, prometeu formar um governo «competente e capaz». O contrário do actual, diz, que deixou o país «à beira da bancarrota, com 700 mil desempregados e o Estado Social em risco». E atirou ao primeiro-ministro: «Não tem desculpa». Sócrates propôs-se continuar uma «governação responsável e moderada», acusando o líder laranja de aventureirismo.

Imagens do debate

manuel.a.magalhaes@sol.pt
suste.francisco@sol.pt

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