quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ninguém confia em Sócrates

A principal causa para a subida dos juros da nossa dívida não é a agitação PS/PSD. A causa principal é uma coisa mais evidente: os credores não acreditam neste governo. Olhemos para os factos que comprovam a incompetência de Sócrates.

I. Nos últimos dias, uma coisa passou a ser a verdade suprema do pós-abstenção do PSD: a agitação PSD/PS é a única causa da subida dos juros da nossa dívida. Ora, esta agitação e a demora na obtenção de um acordo foram, com certeza, factores que provocaram desconfiança nos credores. Claro. Mas, atenção, este é um factor conjuntural e superficial. O problema de fundo, a questão estrutural é outra, a saber: a falta de credibilidade deste governo . Os credores não ligam muito à troca de palavras entre um deputado do PSD e o primeiro-ministro, mas ligam muito aos números. E os números, meus amigos, mostram uma gigantesca incompetência de Sócrates e Teixeira dos Santos:

- O OE2010 tem uma derrapagem de 1.8 mil milhões de euros. Teixeira dos Santos admitiu isto na semana passada. Por que razão os media portugueses não falam disto? Uma coisa é certa: durante os chá das cinco, os nossos credores falam muito sobre este assunto.

- A maquilhagem dos 2 mil milhões do fundo de pensões da PT. Isto pode servir para enganar Bruxelas, mas não serve para enganar os credores.

- O "lapso" dos 570 milhões e a errata dos 800 milhõe s. Estes dois episódios colocam tudo isto no campo do humor involuntário. E, piadas à parte, os credores começam a perceber uma coisa: os portugueses ainda não são gregos, mas têm contas públicas muito pouco transparentes.

- A relutância do governo em largar os TGVs, e um modelo económico caduco.

- A ausência de medidas para renovar nossa economia (exs.: flexibilizar a lei laboral, tal como fez a Espanha e tal como pediu o "euro grupo"; descida da taxa social única).

II. Ora, tendo em conta tudo isto, os nossos credores não acreditam neste governo, não acreditam que Teixeira dos Santos consiga cortar 5% no défice em apenas um ano. E têm razões de sobra para manter essa desconfiança. Os juros não descem por acção dos nossos desejos. Descem por acção dos nossos actos.

Henrique Raposo (www.expresso.pt)
9:17 Quinta feira, 4 de Novembro de 2010

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