quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A farsa de José Sócrates



Estamos a viver uma farsa. Desmontar essa farsa é a única coisa que um democrata pode fazer neste momento. Os argumentos de José Sócrates e de Alberto Martins ofendem quem acredita na democracia, no Estado de direito e na deusa que não tem tradução: accountability. Henrique Raposo (www.expresso.pt)10:25 Quarta-feira, 10 de Fev de 20101.

José Sócrates não quer perceber uma coisa simples: isto não é um caso de polícia. É um caso político. Não vale a pena fugir para o segredo de Justiça e para escutas anuladas, porque não estamos a falar de Justiça, mas de política. Politicamente, José Sócrates tem de dar explicações às instituições do país. Aquilo não é "conversa privada". E não se estão a fazer ataques ao carácter do "José". O país inteiro está a exigir um pedido de explicação pública a José Sócrates, primeiro-ministro (era só o que faltava que isto constituísse uma injúria privada). Sócrates tem de explicar por que razão mentiu ao Parlamento. E tem de explicar por que razão o seu nome aparece num esquema ilegítimo destinado a apagar vozes incómodas nos media.2. A desilusão da semana é Alberto Martins. Este senhor, que passa a vida a dizer que foi "anti-fascista", tem uma estranha noção de Estado de direito. Como diz o "Público" em editorial, as declarações de Alberto Martins apenas revelam o estado de nervos do PS. Pior: este ministro confundiu a defesa do Estado de direito com a defesa de Pinto Monteiro e Noronha de Nascimento, como se estes homens tivessem o dom da infalibilidade. Mas Pinto Monteiro e Noronha de Nascimento estão acima da crítica? No fundo, Alberto Martins não está zangado com o conteúdo do problema. Alberto Martins está zangado com o facto de nós, opinião pública, conhecermos publicamente esse conteúdo. Convenhamos que este não é um registo simpático para um "anti-fascista".3. O segredo de Justiça é uma questão técnica e formal. Não é um valor absoluto. O valor absoluto, aqui em jogo, é termos um primeiro-ministro acima de qualquer suspeita. O valor absoluto, aqui em jogo, é a existência de uma sociedade livre onde o poder político não pode controlar os patrões dos media. O valor absoluto, aqui em jogo, é a existência de um regime político sério assente numa palavra que temos de aprender a traduzir para português:accountability.

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