sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A tentação do controlo absoluto


O tema está a escaldar...
Muitos têm falado e escrito sobre o tema.Aqui mesmo, já expressei em devido tempo a minha opinião.
Respigo aqui um artigo de Emídio Guerreiro, no jornal "Diário de Coimbra", com a devida vénia.

A tentação do controlo absoluto
Ao longo da recente campanha eleitoral o tema da “asfixia democrática” foi largamente discutido. Introduzido pela Dr. Ferreira Leite o tema arrastou-se ao longo de dias.As opiniões publicadas dividiram-se: uns afirmavam a existência de “asfixia”, outros diziam que não. E lá se foram passando os dias e o assunto haveria de “implodir” na última semana de campanha com a divulgação de uma suposta cabala em redor das escutas (tema este que ainda recentemente voltou à tona).Mas não é a “asfixia democrática” o tema que pretendo partilhar com o leitor. A minha reflexão foi precipitada pelo recente episódio em volta do Jornalista Mário Crespo. Importa aqui relevar o seguinte facto: este é mais um caso entre o nosso Primeiro-ministro e um jornalista. Importa ainda referir que o resultado foi o mesmo, ou seja, o Primeiro-ministro ganhou o braço de ferro. A partir de agora, Mário Crespo não volta a escrever no Jornal de Notícias. De igual modo, antes do arranque da campanha eleitoral, Manuela Moura Guedes deixou de fazer o Jornal Nacional da TVI.Já se percebeu, ao longo dos últimos anos, que o Primeiro-ministro lida mal com as críticas. Mas na minha opinião não se trata apenas de “mau feitio”. Se cruzarmos estes acontecimentos com outros como o episódio “Charrua”, a tentativa de interferência no quadro accionista do Sol, expressões como “malhar” proferidas por um membro do Governo e, ainda, com os relatórios da ERC (entidade reguladora da comunicação social) podemos verificar que estamos perante muito mais que medir o grau de tolerância de um Primeiro-ministro às criticas. Na minha opinião existe uma estratégia de poder quase absoluto em que “quem não está por mim, está contra mim” e deve ser afastado da ribalta! Quem é incómodo para o poder deve ser afastado dos principais palcos. A informação a partilhar com os cidadãos deve ser preferencialmente a que interessa ao poder. A restante informação (critica, não conforme) deve ser evitada, marginalizada e se possível excluída. É uma visão diferente do poder a exercer num estado democrático e com a qual não concordo de todo!Tenho provas disto? Não tenho. Também acho que não tenho de ter pois não sou, nem pretendo ser, polícia ou juiz. Sou apenas um cidadão com opinião e com capacidade interpretativa de acontecimentos e de comportamentos. E graças a este Jornal posso expressá-la de forma livre mas consciente. Afinal não foi para isto que uns Capitães se revoltaram num Abril?

Emídio Guerreiro
in Diário de Coimbra, 3-2-2010

Todos nós conhecemos há muito esta forma de estar e de fazer política.
Pena que só chegados a este ponto para se inquietar a consciência colectiva.

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