domingo, 6 de dezembro de 2009

Dos Santos ao Natal


Poço do Frade, foto cedida por Francisco Pacheco


Diz o ditado popular, sabedoria da experiência secular, que dos Santos ao Natal, ou bem chover ou bem nevar.
Este ano não nos podemos queixar de a tradição não estar a ser cumprida.
Os últimos dias têm sido de bem chover.
Chuva que é necessária à reposição de águas nos sistemas freáticos.
Claro que nós não gostamos de nos molhar, lamentamos os problemas que as chuvas nos causam, mas a Natureza é, felizmente, soberana nesta, como em outras, questões.
Com tanta chuva, os rios aumentam profusamente os caudais. Alagam as bordas, como se costuma dizer. Com isso, fazem a limpeza dos lixos que se vão depositando nas encostas e nos leitos dos rios.
É a Natureza a remover e a reciclar a poluição que o Homem vai deixando atrás de si.
Mas é também a ocasião de assistir à denúncia da incúria humana.
Quando vemos que se deixa construir em locais não adequados e depois tudo é inundado.
Quando se constrói sem qualidade e aparecem as infiltrações de água.
Quando não se faz a manutenção prévia e depois anda-se a correr a reparar em plena cheia.
Esta questão, faz-me lembrar o seguinte texto, que passo a citar:
Todos os anos, Portugal é surpreendido duas vezes: uma vez pelo Verão e outra pelo Inverno. Nunca estamos à espera deles. Para o resto do mundo, a natureza é cíclica, monótona e repetitiva. Para nós, é uma caixinha de surpresas. «Olha lá vem o Verão outra vez. E não é que traz novamente muito calor, este bandido? Se calhar devíamos ter feito a limpeza às matas. Ops!, tarde demais, já está tudo a arder.» No Inverno, a mesma coisa. «Olha, lá vem o Inverno outra vez. E não é que traz novamente muita chuva, este bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às sarjetas. Ops!, tarde de mais, já está tudo alagado.» E assim sucessivamente.
Início de uma crónica de Ricardo Araújo Pereira, in Novas Crónicas da Boca do Inferno, a partir da sua participação na revista Visão.
Não admira, portanto, ver a limpar sarjetas para aliviar os encharcamentos sucessivos; águas as escorrer ruas abaixo, quais riachos brincalhões fora da mãe; estradas esburacadas ou cheias de entulho, carrado pelas águas que as cruzam, ...
Se nada já pode ser feito para o Inverno que está à porta, pensemos no Verão que há-de vir!

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