Faz hoje trinta e seis anos que uma revolta militar se transformou numa revolução pacífica.
Revolução que alegrou um povo carente de paz, de progresso e sobretudo de liberdade.
O Movimento das Forças Armadas prometeu descolonizar, democratizar e desenvolver, o que foi conhecido pelos três D's.
Estão volvidos trinta e seis anos.
Muita coisa mudou. Muita evolução se reconhece em muitos domínios.
Fez-se um percurso positivo em muitas áreas.
Contudo, no essencial, qual o balanço que se pode fazer?
Descolonizar - um processo dramático para milhões de portugueses espalhados pelos territórios das nossas ex-colónias, principalmente nas de Angola e Moçambique. A troco de umas negociatas nunca devidamente esclarecidas, Portugal deixou aqueles territórios e os nossos compatriotas tiveram de abandonar as suas casas, os seus bens, os seus trabalhos, enfim as suas vidas, já que ficaram entregues a si próprios, num clima de guerra civil, que se seguiu à descolonização. Enfim, este processo foi mau para os portugueses que aí viviam, como igualmente foi horrendo para os próprios naturais daqueles novos países.
Democratizar - após o "25 de Abril", seguiu-se um processo de democratização. Criaram-se os partidos políticos, promoveram-se eleições livres, foi promulgada uma Constituição de cariz democrático, instituiu-se um poder autárquico com autonomia e legitimidade democrática. Ano após ano, legislatura após legislatura, mandato a mandato autárquico, a democracia tem vindo a esmorecer. Cada vez mais formal, cada vez mais afastada do sentir das populações, cada vez mais respeitada nos quadros regimentais, mas cada vez se consolidam poderes mais despóticos. Democracia, hoje, é apenas um atributo da Constituição que os diferentes poderes existentes (económicos, políticos, grupos de pressão, ...) exploram a seu bel-prazer. O povo, as classes economicamente mais penalizadas, da democracia só têm direito ao voto, nos candidatos que os dirigentes dos poderes lhes impingem. Daí os elevados índices de abstenção e desinteresse pela política e pela causa pública.
Desenvolvimento - a população, em Portugal continental, vivia em condições muito precárias. As condições básicas de vida (água canalizada, electricidade, vias de comunicação, saneamento, cuidados de saúde, de entre muitas outras) não estavam satisfeitas para a generalidade da população e do território. Daí que os anos, posteriores a 1974, tenham sido de explosão nas obras públicas. Daí até à invasão do cimento e do alcatrão foi um pequeno passo. Mas ao desmesurado plano de obras e de desenvolvimento local, por via das autarquias, o Estado caminhou para o endividamento descontrolado, para o défice das contas públicas, para o desemprego. Também para a corrupção, para o arbítrio.
Hoje, trinta e seis anos volvidos, nós, que rejubilámos com a "libertação", sentimos profunda decepção e vemos com preocupação o futuro.
Como já aqui referi uma vez, os nossos pais fizeram o que puderam (ou muito mais do que isso) para nos deixar um futuro melhor.
Como é lamentável que no dia de comemoração do "25 de Abril", em 2010, tenhamos as maiores dúvidas para o presente e futuro dos nossos filhos.
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