quinta-feira, 29 de março de 2012

Precisam-se explicações


Ao longo de 18 anos, o PS tem liderado a Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto.
Neste período têm sido realizadas muitas obras, mas muitas delas deixam um rasto de dúvidas e de problemas.
As obras da Praça da República, a rotunda do Pinheiro, a rotunda do Arco, … foram feitas, refeitas e voltadas a fazer. A construção do edifício onde está o Posto de Turismo mereceu duras críticas na altura e veremos, um dia mais tarde, o que ainda nos irá reservar. A reparação da EN 311 entre Refojos e Lodeiro d’Arque, nem é preciso referir. A construção da pista para aeronaves, agora também hipódromo municipal, nunca foi devidamente fundamentada. As novas vias de acesso à vila estão em construção, mas desconhecem-se os estudos de impacto ambiental. Das obras realizadas já na área envolvente do Mosteiro e das que estão a decorrer, desconhece-se o necessário parecer do IGESPAR.
E o caso do momento é o processo da reconstrução da Escola Básica e Secundária.
Já várias entidades se pronunciaram no sentido de confirmar a suspensão do financiamento comunitário, no valor de milhão e meio de euros (trezentos mil contos).
A autarquia veio afirmar que assumirá as suas responsabilidades e irá pagar a obra.
Isto é os Cabeceirenses irão pagar.
Mas como o fará?
Se o Tribunal de Contas não deu o respetivo visto, como pode a autarquia efetuar o pagamento? Fará um pagamento ilegal?
É preciso apurar responsabilidades do arquiteto da obra, como anunciou a autarquia, mas é igualmente imprescindível assegurar o apuramento das responsabilidades da autarquia.
É preciso assegurar que as culpas não morram solteiras e, à boa maneira portuguesa, os cabeceirenses paguem os prejuízos.
É um imperativo de cidadania conhecer o que se passa, exigir explicações e pedir responsabilidades.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Desenvolver Cabeceiras


Referia em artigo anterior que “o nosso concelho precisa de uma nova oportunidade para o desenvolvimento. Cabeceiras precisa de ter uma Câmara aberta aos munícipes, uma gestão solidária e respeitadora dos direitos dos trabalhadores e dos utentes, que valorize a democracia e a liberdade. Uma gestão que defina e partilhe um Plano de Desenvolvimento, integrado e sustentável, que valorize os recursos locais, que aposte nos cabeceirenses”.
O centralismo da gestão autárquica tem vindo a reduzir o já estreito caminho do desenvolvimento.
As sociedades evoluídas só crescem com a liberdade empresarial, onde existam condições de liberdade de escolha, liberdade de instalação, liberdade de contratação. Onde a administração gere os procedimentos administrativos com rapidez e sem grandes burocracias e custos.
Querer colocar na órbita da autarquia a cultura, o desporto, a educação, o apoio social, a saúde, a economia, mais não é do que voltar às políticas antigas do centralismo que já hipotecaram o passado e nos comprometerão o futuro.
Alguns projetos, já falados há demasiados anos, vão-se diferindo de ano para ano, de mandato para mandato. O pior é que nunca aparecem e já lá vão dezoito anos.
Vejamos os exemplos do hipermercado, do centro para inspeções de automóveis, do hotel, da criação de novas empresas, da central de biomassa.
Verificámos que o tão badalado interposto comercial de carnes, para tratar um dos produtos de excelência da nossa terra, mesmo que fortemente financiado pelo erário público, nunca chegou a cumprir o seu desígnio.
Os produtos locais só têm espaço no nosso mercado local, já que nunca houve uma política da sua promoção e comercialização em contextos nacionais e internacionais.
A utilização das nossas comunidades de emigrantes poderia ser um meio para a sua divulgação e comercialização, gerando negócios, gerando riqueza, gerando emprego, valorizando o que é nosso.
Continuar a apostar na estratégia do cuco, pôr os ovos nos ninhos dos outros, normalmente não é um bom caminho. Já assim foi no passado recente, que após alguns anos de trabalho para empresas externas ficámos sem trabalho, sem riqueza.
E nós temos cá tanta coisa que pode constituir a nossa riqueza no futuro.
Mas só uma sociedade civil forte, com a iniciativa privada empenhada se alcançará o desenvolvimento para Cabeceiras.
Precisa-se de uma gestão para a autarquia que queira promover este novo paradigma de desenvolvimento ao serviço dos cabeceirenses, porque pelo caminho que trilhámos ao longo dos últimos mandatos não vamos lá.

           
ER 311 está um perigo
           
Durante uma dúzia de anos andámos a lamentar o estado da ER 311, entre Refojos e Lodeiro d’Arque. Do traçado daquela estrada, em área do nosso concelho, aproveitava-se o do Pinheiro a Fojos.
Ao longo de já longos meses, a Câmara Municipal resolveu instalar o sistema de saneamento entre o acesso a Cucana e o Pinheiro, esburacando a faixa direita do sentido descendente.
Temos agora aquele troço de estrada, do melhor que ainda havia, todo esburacado e propiciador de graves riscos rodoviários.
Pelo facto de ter chovido pouco, a estrada resistiu melhor ao inverno, já que não houve infiltrações de água. Mas para a segurança rodoviária e para a conservação daquela via, exige-se a sua célere reparação.

NOTA: Na última edição alertava para a possível perda de parte da receita dos fundos comunitários para a obra da Escola Básica e Secundária de Cabeceiras de Basto. Infelizmente, segundo notícias vindas a público, a Comissão Europeia confirmou essa situação. Má notícia mesmo.

Para a edição de "O Basto", de Março

terça-feira, 6 de março de 2012

Um Dia Isto Tinha Que Acontecer



Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
por Mia Couto