Sócrates voltou hoje ( No comício de Mangualde em 21 de Agosto de 2010) a apresentar-se como o defensor irredutível do "estado social", contra o cerco que acha que o PSD lhe está a fazer. Não há dúvida de que esta será a retórica do PS até às próximas legislativas. Por isso, é preciso que a direita perceba o seguinte: em Portugal, a maioria esmagadora da actual população activa urbana cresceu e viveu absolutamente dependente do Estado - trabalhando para o dito e/ou dele recebendo os mais diversos subsídios e subvenções. Mesmo no mundo rural, a agricultura foi há muito substituída pelo Estado como a principal fonte de rendimento (aliás, a própria agricultura que ainda resta também sobrevive porque é subsidiada). Este é o país que temos. É o país que é. Que, em grande medida - na ditadura e na democracia -, o obrigaram a ser. E o PS, por definição ideológica, é o partido deste Portugal - que alegremente troca a ambição por protecção, que suspeita dos que sobressaem e prefere a igualdade a qualquer custo, mesmo se essa igualdade significa a pobreza de todos. Sócrates não precisará de se esforçar muito para que este Portugal se sinta identificado com o seu discurso. Ele é, por excelência, a sua voz. Quem tentar fazer o mesmo, não passará de reles imitação.
No entanto, há um outro Portugal que surge. Porventura, é ainda geracionalmente demasiado definido, mas a sua influência começa a pressionar a velha ética do colectivismo e do assistencialismo. É o Portugal que cresceu na falência do Estado embalsamado que Sócrates venera. O Portugal dos que do Estado apenas esperam que este não os incomode mais do que o estritamente necessário. Dos que aproveitam a globalização para conhecer o mundo e comparar realidades, cujas raízes não serão num só sítio. Dos que querem arriscar e ter sucesso ou arriscar e falhar e arriscar de novo, em vários países, que não acham que devemos todos viver em rebanho mas, pelo contrário, que cada um deve poder procurar a felicidade à sua maneira, livremente desenvolvendo os seus talentos.
Se a direita quiser servir para alguma coisa, tem e perceber que há um Portugal mental velho, que espera do Estado a doação de um modo de vida, e um Portugal mental novo. Se quiser ter uma influência duradoura no governo do país, é para este último que tem de falar, construindo uma narrativa ideológica consistente e um discurso que suporte intelectualmente essa mudança geracional e sociológica. Tem de falar, com coerência e propostas concretas, de liberdade. Se o PS é o partido dos instalados do velho Portugal, a direita tem de ser a escolha natural do novo Portugal: de gente livre, cosmopolita, empreendedora e ambiciosa.
publicado por Francisco Mendes da Silva às 00:03 de 22Agosto de 2010 no Blogue 31 da Armada
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