quarta-feira, 20 de julho de 2011

O problema dos milhões

           Os últimos tempos têm sido de grande discussão em torno das questões económicas e financeiras, em resultado da situação a que chegou Portugal.
        Como dizia Cavaco Silva, se um País não deve, não se preocupa com os mercados, mas se está dependente a questão agudiza-se.
            Portugal está “sem tostão”. Endividou-se nos últimos seis anos de forma desmesurada, ficando o país e cada um de nós num verdadeiro nó cego.
            Não há dinheiro para nada, absolutamente nada. Temos de aprender a viver com essa realidade.
            Acresce ainda o facto de na guerra entre as moedas, o dólar e o euro, acabarmos por ser o elo mais fraco e assim o objecto de um ataque selectivo, permanente e castrador das nossas possibilidades de recuperação.
            Mas como é que nós chegámos a este estado de coisas?
            Fundamentalmente por duas razões: a mania das grandezas e o dinheiro fácil.
            Os portugueses nunca perderam o espírito imperial de outrora. Um país, que já foi um considerável império, ganhou tiques de riquismo balofo. Todos temos de ter uma casa, dois carros, muitos telemóveis. Todos temos de fazer férias nos sítios mais “in”. Os nossos hábitos de consumo suplantam de forma abissal os nossos compromissos de trabalho, de criação de riqueza, de poupança.
            Todos nós (a grande maioria) gastamos muito mais do que produzimos. E não vale a pena esconder essa realidade. Alguns fizeram-no ainda dentro de limites suportáveis, outros nem por isso.
            Claro que a existência de dinheiro fácil muito ajudou para esta situação. A banca disponibilizou créditos sem crédito. Os muitos projectos, incentivos, programas operacionais, … disponibilizaram às pessoas e às instituições muitos milhões de euros sem cuidar de saber se havia condições de suportar os respectivos encargos ou se as verbas envolvidas eram devidamente aplicadas e geradoras de riqueza que permitisse acautelar o futuro.
            Muitos milhões de euros gastos, estamos em pré-falência, como diz a Moody’s, somos lixo.
            Claro que no meio disto, muitos há que enriqueceram, que souberam aproveitar os ventos que corriam de feição e o nosso país agravou a disparidade entre os mais ricos e os mais pobres.
            Mas todos vamos ter de pagar a factura e por certo serão os mais pobres a ter de pagar mais e sofrer de forma mais violenta as consequências.
           
A pesada herança
           
            Também por cá é preciso fazer contas.
            Durante este período, na nossa autarquia também se gastaram muitas dezenas de milhões de euros. Quer os resultantes do orçamento ordinário, o das contribuições do poder central, o dos projectos europeus, o dos empréstimos, o das dívidas contraídas. O muito que foi cobrado aos cabeceirenses. Assim num cálculo rápido, muito para cima de cem milhões de euros.
            Está na hora de pedir responsabilidades.
            Não pelo gasto do dinheiro. Isso, sabemos que foi gasto dentro das regras da contabilidade oficial. Isso é atestado pela documentação contabilística.
            Mas pela forma como foi gasto. É urgente analisar as prioridades seguidas. É importante verificar o retorno de riqueza produzida para o concelho.
            Cabeceiras de Basto foi, talvez, dos concelhos mais bafejados com os milhões da benevolência da governação socialista.
No entanto, volvidos estes anos, continuamos com o nosso estrutural atraso, ou até vimos agravada a nossa situação.
Não foi por se ter gasto rios de dinheiro que mudámos de vida, que nos desenvolvemos.
Basta atentar nos índices do desemprego, dos resultados escolares, da qualidade de cuidados de saúde, do crescimento económico, da emigração.
As obras feitas serviram apenas para gastar o dinheiro e deixar-nos uma pesada herança.
Aqui e no país!

Publicado na edição de Julho de "O Basto"

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