“As empresas só são viáveis quando
as receitas cobrem as despesas.
Com as nações
passa-se o mesmo: só são viáveis quando o que os seus habitantes produzem paga
aquilo que consomem.
Caso contrário,
entram numa espiral de dívida insustentável.
E não se diga que não
temos muito por onde poupar.”
In: Política a Sério, José António Saraiva,
Sol, de 14 de outubro
O Governo que iniciou
funções, há pouco mais de três meses, viu-se confrontado com uma situação
insustentável: as dívidas, pública e privada, batiam todos os recordes; o
défice deste ano, em vez de ter baixado, subiu; o financiamento externo estava
confinado ao acordo com a troika e
com juros avassaladores; e os compromissos desse acordo impõem resultados
precisos e em tempo determinado.
Dinheiro não havia,
nem há!
Era preciso encontrar
soluções. Qualquer delas pior que a anterior.
O incumprimento, por
seu lado, é somente o assumir da bancarrota.
Detesto as medidas adotadas
pelo Governo.
Mas detesto muito
mais todas as ações que contribuíram para chegar ao ponto de estas medidas se
imporem como a última saída para o país e para os portugueses.
Como afirmou Passos
Coelho, “ As medidas são minhas mas o défice que as obriga não é meu”.
Portugal chegou a
este ponto, depois de muitos anos de esbanjamento, sendo que, nos últimos seis,
a situação se agravou de forma desmesurada.
Aqui chegados, temos
todos motivos e razões de queixa. Lá diz o ditado que “em casa onde não há pão
todos ralham e ninguém tem razão”. É o que nos acontece, literalmente.
Há muito que
prestigiados economistas vinham alertando para o colapso da economia
portuguesa. Manuela Ferreira Leite e Medina Carreira eram “insultados” por
causa da sua visão realista. Cavaco Silva era ignorado nos seus alertas. Outros
comentadores, com a mesma orientação, eram motivo de chacota nas lides
socialistas.
No reino cor-de-rosa
de Sócrates tudo estava bem. Não eram precisas medidas de contenção, planos de
reestruturação, cortes das despesas, enfim entrar nos eixos.
Só tarde e a más
horas recorreu ao FMI, ao BCE e à CE. Tarde, tarde de mais, como se previra e
com as consequências que hoje vemos.
Portugal vive hoje em
estado
de emergência.
Não é uma questão de
alternativas, de preferências, de gostos. Temos, pura e simplesmente, de cumprir
os objetivos que o governo de Sócrates negociou e aprovou com o beneplácito dos
partidos que hoje estão no poder.
Se falharmos, falhamos
como nação, falhamos como povo.
Se falharmos, teremos
ainda uma situação muito pior.
Esta situação é muito
dura, excessivamente dura. Recuamos economicamente à década de setenta do
século passado. De outro modo, recuaríamos à de vinte, de que nós já nem temos
memória.
Infelizmente é este o
nosso fado!
Continuar
a gastar
Dia após dia, são conhecidas as
medidas adotadas pelas diferentes entidades públicas no sentido de reduzir as
despesas. Tendo presente a situação financeira do país, as obras vão parando,
um pouco por todo o lado. Há restrições de todo o tipo: dispensa de pessoal,
controlo das despesas de consumo, renegociação de contratos.
Enfim, é tempo de poupar. É tempo de assumir a
quota-parte no controlo das finanças públicas.
Porém, há sempre quem considere que
pode continuar a gastar.
Não sabemos de onde vem o dinheiro,
não sabemos quanto está a ficar escondido como dívida futura.
Depois, alguém se pode admirar de
surgirem sucessivos e colossais buracos?!
Publicado na edição de Outubro de "O Basto"
Sem comentários:
Enviar um comentário