Habituámo-nos ao comentário jocoso de que Sócrates era um mentiroso compulsivo.
Tudo quanto dizia, vinha-se a confirmar que nada tinha de verdade.
Chamavam-lhe até o "Pinóquio", comparando-o ao célebre boneco de madeira a quem crescia o nariz por cada mentira que dizia.
Se assim fosse, Sócrates não caberia em nenhum dos salões do poder por onde andou.
Agora, que mudámos de Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho passou também a ser apodado de mentiroso. Na campanha eleitoral disse uma coisa, agora no poder faz exatamente o contrário do que dizia.
Mentiroso, portanto.
Chegados aqui, fatos assumidos, será que estamos perante a mesma atitude?
Será que de fato estamos perante iguais circunstâncias de mentira?
Analisemos, pois.
Sócrates fugia à verdade para esconder a realidade. Mentia para se manter no poder. Mentia para enganar os portugueses. Mentiu até ao último momento do seu mandato, escondendo a real e avassaladora situação económica e financeira de Portugal.
Sócrates sabia que não dizia a verdade. Sabia também que ao fazê-lo estava a criar um enorme problema para o País e para os Portugueses.
Passos Coelho assumiu um compromisso de verdade. Assumiu a responsabilidade de tirar Portugal do buraco em que Sócrates o deixou.
Para isso, tem de fazer o contrário de muito do que prometeu. Tem de faltar às suas promessas. Isto é, diz a verdade, mas não pode cumprir, para já, parte do que prometeu.
Não se trata assim de ser mentiroso, mas tão somente responsável.
Já se imaginaria o resultado, se face à situação calamitosa que encontrou, resolvesse aplicar as medidas que prometeu, só para que não o pudessem chamar de mentiroso e nos continuasse a empurrar para o abismo?
Passos Coelho poderia nesse caso ser correto com a sua palavra, mas irresponsável perante o país e os portugueses.
Em Portugal, temos de nos assumir pelos atos e não apenas pelas palavras.
Temos de atender mais aos resultados do que aos percursos.
Temos de validar a verdade dos fatos.
Não se pode comparar a "mentira" de Sócrates, com a "quebra de compromissos" de Coelho.
São níveis de responsabilidade e de rigor diametralmente opostos.
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