“O caminho para a institucionalização da auto-regulação da profissão docente em Portugal terá de ser aberto pelo diálogo entre as associações profissionais, pela informação e comunicação com os professores, e também com iniciativas dirigidas à opinião pública”, refere o Presidente da Associação Nacional de Professores, João Grancho. Para além da auto-regulação, o responsável defende, em entrevista ao Ensino do Futuro, que a violência nas escolas deverá ser prevenida desde o pré-escolar.
Quais são os principais desafios que os professores têm de enfrentar no Ensino?
Penso que há três desafios essenciais: desde logo o desafio da estabilidade, quer ao nível das condições gerais de exercício da sua profissão, quer ao nível dos quadros reguladores do seu estatuto profissional e funcional; por outro lado o desafio da restauração do reconhecimento e da confiança social na profissão; por fim, e talvez o mais importante, a capacidade de se congregar em torno da criação de um organismo de auto-regulação que cuide do valor e dos valores da profissão docente.
De que forma é que a auto-regulação pode ser um benefício para os professores?
A auto-regulação profissional, genericamente considerada, tem benefícios públicos, políticos, profissionais e pessoais. Atendo-me apenas aos benefícios profissionais, o que se pode afirmar, tomando por referência os países em que ela já existe e as profissões já auto-reguladas em Portugal, é que contribuiu de forma decisiva para elevar o estatuto da profissão, o reforço da sua competência profissional, da sua autonomia, confiabilidade e respeitabilidade.
O que é necessário para haver essa auto-regulação?
A base jurídica da auto-regulação é um mandato público atribuído a uma associação ou organismo profissionais, conferindo-lhe poderes para a regulamentação e disciplina da profissão, no interesse público.
Atenta essa realidade, necessário e decisivo para a criação de um organismo de auto-regulação da profissão docente é que os responsáveis políticos, mas sobretudo os professores e suas associações, compreendam os seus benefícios.
Por consequência, o caminho para a institucionalização da auto-regulação da profissão docente em Portugal terá de ser aberto pelo diálogo entre as associações profissionais, pela informação e comunicação com os professores, e também com iniciativas dirigidas à opinião pública. Passa ainda necessariamente pelo diálogo com o poder público, a nível legislativo e executivo.
Para além do bullying, que tipo de violência enfrenta o professor?
Os professores estão cada vez mais expostos e sujeitos a pressões de vária índole, enquanto no exercício da sua profissão. Situando-nos no plano estrito da “violência” é um facto, ainda que não generalizável, que recorrentemente são alvo de ameaças, calúnias, denúncias (a maior parte delas infundadas) e mesmo agressões psicológicas e físicas.
Que medidas devem ser tomadas para evitar e controlar os comportamentos violentos?
A melhor e mais consistente medida para evitar os comportamentos violentos é a prevenção. Uma prevenção que deve começar logo no pré-escolar e estar intencionalmente presente ao longo de todo o percurso escolar dos alunos e envolver, designadamente, os pais e encarregados de educação. Para isso são necessários recursos humanos e materiais integrados e articulados em torno de equipas multidisciplinares e a criação de condições que permitam uma articulação adequada e sistemática entre escola e comunidade envolvente.
Que análise faz do impacto das novas tecnologias no Ensino?
De facto, o desenvolvimento das tecnologias produziu alterações profundas na nossa forma de estar na sociedade, mas o mais significativo são as mudanças operadas nos nossos jovens. Os jovens de hoje, convivendo umbilicalmente com o acesso instantâneo à informação, chegam à escola transportando consigo um mundo que ultrapassa em muito os limites do núcleo familiar, do professor e da própria escola.
Deste modo, as novas tecnologias não podem ser vistas como meros instrumentos didáctico-pedagógicos de motivação e apoio aos alunos; devem ser encaradas como elementos de articulação de todo o processo de ensino-aprendizagem, e indutoras de uma nova forma de produzir conhecimento, de ensinar e aprender.
Quais são as perspectivas para o Ensino do Futuro?
Penso que não podemos falar em Ensino do Futuro, mas antes do ensino de hoje, de todos os dias, que deve fornecer a quem o frequenta as ferramentas adequadas, adaptáveis, para enfrentar o futuro. Nesse sentido todo o investimento deverá ser no sentido de reforçar a qualidade, o rigor e a exigência.
Publicado por Ensino do Futuro em 30 abril 2010 às 14:29 em Opinião
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