quarta-feira, 16 de junho de 2010

Por que razão os alunos do Leste Europeu têm bom desempenho escolar?


Por que será que o insucesso escolar entre os alunos dos países do
Leste Europeu a residirem em Portugal é residual?

Para responder a esta pergunta, não posso deixar de repescar esta
conversa publicada no ProfBlog em 13 de Fevereiro de 2009:

Fui, esta tarde, à reprografia da escola e encontrei uma funcionária nova.

Perguntei: "É brasileira?"

Ela respondeu: "sou moldava".

"E onde é que aprendeu a falar tão bem o português?"

Ela: "Eu? Sozinha!"

"Tem filhos?"

"Dois. Estão na escola".

"Gosta da escola portuguesa?", perguntei.

"Muito diferente da Moldávia. Em Portugal não há respeito pelos
professores e a escola ensina pouco. Nada exigente", respondeu.

"Por que razão os alunos do Leste têm tão bons resultados?", perguntei.

"Muito trabalho em casa. Duas horas por dia de estudo. É pena aqui os
professores não passarem trabalhos para casa. Alunos portugueses não
respeitam os professores. Os nossos respeitam. Damos valor à escola",
acrescentou.

Há 5 variáveis que estão presentes nos alunos do Leste Europeu a
residirem em Portugal e que estão ausentes dos lares de muitos
famílias de alunos lusos: trabalho, esforço, responsabilidade,
respeito e expectativas.

Podem forrar de mármore as paredes das escolas, cobrir as secretárias
com computadores da última geração e colocar professores de apoio em
todas as salas de aula. Se estas 5 variáveis não estiverem presentes,
os alunos não aprendem.

O problema do mau desempenho dos alunos portugueses - um facto sempre
confirmado pelos resultados do PISA - tem uma razão e apenas uma
razão: falta de gosto pelo trabalho, desprezo pelo esforço, falta de
responsabilidade e de respeito e expectativas baixas.

Enquanto estas variáveis não forem introduzidas nas mentes dos pais e
dos alunos, não há metodologia, recursos materiais e professores
capazes de resolver o problema.

O meu caso pessoal e o de muitos outros portugueses da minha geração
confirma a tese. Perdi o meu pai aos 4 anos de idade. A minha mãe
exercia uma profissão que a mantinha fora de casa 8 horas por dia,
seis dias por semana. Aos 8 anos de idade, fui para um colégio
interno. E fui sujeito a uma forte disciplina e a um calendário de
estudo rígido: 3 horas de estudo diário, incluindo sábados e domingos.
Foi o que me valeu. Foi aí que ganhei resiliência, coragem, gosto pelo
trabalho, capacidade de sacrifício, responsabilidade, respeito e
expectativas elevadas. Sem essas variáveis, teria sido um zé-ninguém,
tal como vão ser os jovens a quem as políticas educativas privam
da presença daqueles valores.

09 Maio, 2010 Publicada por Ramiro Marques

1 comentário:

  1. Penso que o resumo em cinco variáveis seja muito simplista para uma questão tão complexa. Porém, embora estas variáveis possam, eventualmente, explicar grande parte do nosso insucesso escolar em relação a outros, penso que a arte de ensinar, e quem a pratica, devem ser mais duas variáveis a ter em conta. Senão, vejamos, com apenas "trabalho, esforço, responsabilidade, respeito e expectativas" éramos naturalmente auto-didactas, sem Escolas, professores etc.

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