Numa sociedade em crise, diz-se que as qualificações de cada um são um elemento de salvaguarda e de vantagem competitiva.
Por isso, há de qualificar milhares ou milhões de cidadãos através das Novas Oportunidades.
Nem vale a pena falar deste famigerado projecto.
Por outro lado, todas as organizações e sectores profissionais apostam na requalificação dos seus quadros, na avaliação de desempenho, como elementos essenciais ao desenvolvimento e progresso individual e do grupo em que se inserem.
O Ministério da Educação, de há muitos anos a esta parte, embarcou igualmente neste processo.
Abanou com a cenoura de uma progressão mais vantajosa na carreira profissional dos professores, pô-los a fazer sucessivas formações contínuas, cursos de especialização, complementos de formação, mestrados, doutoramentos.
Para quê?
Para continuarem nas mesmas escolas, com os mesmos alunos, com as mesmas faltas de recursos, com a mesma organização funcional, com uma cada vez maior centralidade do ministério, com maior dependência e controlo.
Muitos professores embarcaram neste processo imbuídos de bons objectivos, de boas ideias, diria mesmo de boa-fé.
Outros, talvez os mais sensatos, fizeram-no só e apenas para ganhar mais uns cobres no fim do mês.
Qual o resultado?
Para as escolas e para os alunos não se vislumbram melhoras directamente relacionáveis.
Mas para os professores, fora o maior ou menor aumento salarial obtido, perderam a sua dignidade, sujeitaram-se a ser apelidados de ignorantes e incapazes, necessitados permanentemente de formação. Enfim, uns "burros".
É um pouco assim que muitos daqueles que investiram tempo, esforço e até muito dinheiro na sua formação, quanta dela muito especializada, hoje se sentem.
O que dirá, por exemplo, um professor que neste processo até entendeu obter o mestrado ou o doutoramento em novas tecnologias de informação e comunicação e que no final é colocado, lá na escola, a transportar computadores, cabos e a reparar software, de sala em sala?
Terá sido para isto que se promoveu tanta formação?
Será que a qualificação dos recursos humanos serve apenas para desqualificar a função docente?
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