A palavra e o conceito de deslocalização tem entrado na nossa comunicação quotidiana.
Todos nós ouvimos falar que uma das causas do desemprego é a deslocalização das empresas, que a derrocada da bolsa se deveu à deslocalização dos capitais, que os fluxos migratórios se devem à deslocalização de umas e de outros.
Mas muitas vezes, dentro das nossas pequenas terras, também há deslocalizações.
Em 1984/85, eu sei... já lá vai muito tempo, preparavam-se os estudos preparatórios para o Plano Director Municipal (PDM) de Cabeceiras de Basto, e discutia-se a importância de conseguir manter o equilíbrio no interior do concelho, assegurando, em cada uma das áreas geográficas definidas, centros de dinamização social, económico, cultural, recreativo e de serviços.
Infelizmente, quer antes, quer depois da aprovação do PDM, essas preocupações esbateram-se, os critérios e os objectivos propostos foram desvalorizados, e hoje temos o que temos.
O concelho está cada vez mais hipercentralizado na sede do concelho, com o inevitável abandono e desertificação, principalmente das freguesias mais afastadas.
Hoje há ainda um outro factor de deslocalização.
A autarquia vai criando serviços, equipamentos de forma aparentemente aleatória.
Depois, numas ocasiões centra-se o núcleo de actividades num local, para logo a seguir passar para outro, e assim sucessivamente, fazendo rodar as diferentes actividades sem que de forma sustentada quem tem de investir consiga tirar partido do investimento feito.
Vem isto a propósito de várias obras e da dinamização que é feito à sua volta.
Primeiro, foi a Praça da República e o espaço adjacente ao Mosteiro. Parecia que a opção era pela centralidade da vila.
Mas rapidamente, passou para a zona do mercado e do centro de saúde.
Depois veio o pavilhão gimnodesportivo, a seguir o centro hípico, agora a pista de aeronaves, de entre outros.
Poder-se-á dizer que é o factor de diversificação, o aumento da oferta, ou outros argumentos semelhantes.
No entanto, o que acontece é que falta uma clara identificação de uma estratégia partilhada socialmente, de forma a que os investidores privados, que têm de acompanhar o investimento público, consigam tirar partido desse esforço, já que não podem mudar de local e não têm tempo para o consolidar.
Como exemplo, pergunto, no dia da inauguração da pista de aeronaves, estavam presentes milhares de pessoas, que serviços aí existem para dar respostas às suas necessidades?
Quem lucrou com essa realização?
Os comerciantes ambulantes de bebidas, que essencialmente não são da nossa terra.
O nosso comércio, no fundamental, não beneficiou em nada.
Agora que se aproxima a feira de S. Miguel, aonde serão realizadas as chegas de bois, as corridas de cavalos?
E querem ainda que o comércio local ajude a suportar mais este elevado custo?
Depois ficamos admirados com o estado de depauperação do nosso comércio, com a pobreza galopante da nossa terra, independentemente das múltiplas obras, onde se enterra o nosso dinheiro e o dos nossos filhos.
Isto também é uma forma de deslocalização de pessoas e de capitais.
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