Um dos colegas participantes comparou a nossa cultura ocidental dos lares aos guetos soviéticos.
Durante a revolução russa, de facto, criou-se uma nova organização social, destinada a receber e afastar da sociedade “revolucionária”, de então, todos quantos não a pudessem servir: os velhos, os deficientes e mais tarde todos quantos não partilhassem os seus ideais.
Na nossa cultura popular, transmitida pela lenda do monte das Campas, também nós, por cá, abandonávamos os nossos “velhos” algures no monte para que longe da vista pudessem morrer sem grandes encargos para os seus.
Numa sociedade que se quis mais humanizada e cristã, a Igreja ao longo dos séculos criou instituições de solidariedade que deram o apoio possível, já que só a instituição família poderá dar o afecto e a integração plena.
As Santas Casas da Misericórdia constituíram-se assim como a maior, a melhor e a mais eficaz rede de prestação de serviços sociais existentes no país.
Nos centros de todas as vilas e cidades, e quantas vezes em muitas freguesias do interior, criaram unidades de vanguarda de apoio social.
No entanto, nos tempos mais recentes, começaram a surgir, um pouco por todo o lado, organizações designadas por IPSS – Instituições Particulares de Solidariedade Social, das quais se desconhece qualquer acção ou espírito de solidariedade social, mas apenas formalmente constituídas para acederem à prestação de serviços e obterem elas mesmas os apoios que o Estado concede.
Depois, tal como na lenda, constroem guetos, algures no meio do monte, para que os “velhos” fiquem longe do olhar. Como me dizia um outro amigo, para que “não cheirem mal à nossa beira”.
Porém, aquilo que estamos agora a fazer será, por certo, aquilo a que teremos direito no futuro próximo. É a manta que o filho dava ao “velho” na lenda das Campas.
Será isto que nós queremos para cada um de nós?
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